domingo, 4 de maio de 2008

O ateísmo requer fé?


Em um nível mais profundo de discussão, ateísmo e fé não são auto-excludentes. O ponto controverso é a hipótese-deus. Ambos, ateu e o religioso de uma denominação qualquer, podem basear concepções sem uma fundamentação completa. Assim, um cidadão comum, medianamente bem-informado, pode acreditar na dualidade onda-partícula, ainda que não tenha a bagagem necessária para investigar os pressupostos em que ela se baseia. A diferença em relação à religião está no fato de que esta última não tolera investigações; sua base dogmática não é questionável sequer nos círculos mais estritos. Exemplo disso é a hierarquia de igreja católica e as sanções aplicáveis aqueles que ousam levantar hipóteses. Em religião, dogmas são menos negociáveis do que em ciência.

O catecismo, exercido sobre crianças que aceitam igualmente deus e papai-noel, é um dos pontos considerados mais delicados da discussão sobre religião. Os limites entre fé legítima e defesa da doutrinação recebida tornam-se difusos: o indivíduo é impregnado pela família e pelo grupo social de uma cultura que não teve a oportunidade de escolher ou recusar. Logicamente, dificilmente terá uma base de análise e argumentação que lhe permita discutir livre e conscientemente o assunto - sejam pinturas na parede da caverna, seja um elaborado ritual em uma catedral. Por fim - e surpreendentemente - argumentos como "falta de fé" e mesmo "influência demoníaca" são empregados com grande freqüência. Cabe notar que esse retorno a um pensamento medieval é mais visível em certas denominações religiosas do que outras.

Para muitos agnósticos e ateus fracos, tanto o teísta quanto o ateu forte estariam baseando suas afirmações na fé, e não no conhecimento. Segue abaixo um pequeno resumo de argumentos acerca da idéia, (aqui o termo ateu será usado como sinônimo de ateu forte).

O ateísmo forte não requer a fé O ateísmo forte requer fé
O ateísmo não é uma crença apoiada em dogmas: ele acabaria se surgisse uma prova irrefutável da existência de entidades divinas. Nada impede que muitos teístas afirmem que abandonariam suas crenças caso fique provado que seu deus não existe. Isso não faz com que eles deixem de estar apoiados na fé.
É a crença na existência de algo sem que existam provas a esse respeito que é inaceitável e não o contrário, ou seja, caso não se possa provar que algo existe, deve-se partir do pressuposto de que esse algo não existe. A descrença dos ateus não é equivalente a uma crença, uma vez que o ateísmo só existe como conseqüência da falta de provas e indícios favoráveis à existência de deuses. É notadamente uma falácia afirmar que, porque uma coisa não foi provada como verdadeira deve ser necessariamente falsa. Para a ciência, todo aquele que afirma algo sobre a realidade passa a ter o ônus da prova. Tanto pessoas que afirmem que um deus existe quanto aquelas que afirmam não haver deuses precisam apresentar provas daquilo que estão dizendo.
A inexistência de deus não precisa ser provada porque, da maneira como é apresentada pela maioria das religiões, é essencialmente auto-contraditória. Seria logicamente impossível que tal deus exista. A lógica é freqüentemente usada tanto para tentar negar, quanto para tentar provar a existência de um criador. Até mesmo o pressuposto de que a lógica seria capaz de concluir pela existência ou não de um deus é algo questionável.

Essa discussão tem muitas facetas e envolvem desde discussões epistemológicas até a própria definição de termos como fé e crença. Não parece provável que surja uma resposta consensual no futuro próximo.

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